terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Algumas observações táticas de Náutico 2x0 Santa Cruz

Na última segunda-feira, 1º, o Náutico recebeu e bateu o Santa Cruz por 2 a 0 na Arena Pernambuco. Quem quiser, pode conferir a crônica do jogo que escrevi para o Superesportes do Diario de Pernambuco AQUI. Neste texto, farei algumas observações táticas do Clássico das Emoções, mostrando alguns pontos que evidenciam a superioridade tática alvirrubra, que resultou na vitória do Náutico.


Náutico e Santa Cruz apresentaram estratégias de jogos bem distintas. Os alvirrubros priorizavam a posse de bola e tentavam progredir em campo, na base do jogo construído desde a sua defesa - Rodolpho, por exemplo, batia os tiros de meta sempre para um dos zagueiros.
Saída com posse desde a defesa.JPG


Enquanto os tricolores apostavam nos lançamentos longos - Tiago Cardoso sempre cobrava os tiros de meta em direção ao meio de campo - e contra-ataques.


Saída de bola Santa Cruz.JPG


No sistema defensivo, quando já se encontrava em fase de defesa, o Náutico demonstrava bastante compactação, o que facilitava as dobras na marcação do jogador adversário que estivesse com a bola.


Compactação primeiro tempo.JPG


Marcação sobre o homem que tem a bola.JPG


O treinador do Náutico, Gilmar Dal Pozzo, prioriza a posse de bola como forma de controlar o jogo. Quem tem a bola, corre menos riscos. É o que diz Guardiola, por exemplo. E o Timbu controlava as ações da partida. Para isso, contou com uma atuação impecável de Rodrigo Souza. Como um volante construtor, o jogador aparecia para o jogo, criando linhas de passes, e fazia o time jogar, fazendo passes e conduzindo a bola nos espaços vazios.


Rodrigo Souza volante construtor.JPG
Rodrigo Souza saindo com a bola.JPG


Apesar de controlar o jogo, o Náutico chegava pouco à área adversária e, por vezes, ao perder a bola no meio de campo ofensivo, permitia ao Santa Cruz alguns contra-ataques. O tricolor aproveitava os espaços deixados pela falta de dinâmica na recomposição defensiva timbu, que por vezes tinha Elicarlos sozinho no primeiro combate de proteção à defesa. Foi assim que o Santa Cruz, apesar de ter menos a posse da bola na etapa inicial, conseguiu chutar mais vezes ao gol alvirrubro. Porém, sem profundidade e amplitude, o tricolor apostava em chutes de fora da área, como os de Daniel Costa e Raniel (que chutou mesmo depois de um impedimento mal assinalado).
Daniel Costa chuta de fora.JPG


Ao intervalo, o zero no placar fazia justiça ao que foi apresentado pelas duas equipes no primeiro tempo.


Um lance logo no início da segunda etapa mudaria a partida completamente. O Santa Cruz teve uma falta próxima à área do Náutico com um minuto de jogo. E aí entra o trabalho de campo desenvolvido pelo treinador ao longo do dia a dia. Bolas alçadas à área são uma excelente oportunidade de contra-ataques.


Um estudo feito na temporada 2010/11 na Premier League apontou, por exemplo, que apenas um em cada nove escanteios resultava em finalização e somente uma finalização em cada cinco dava em gol. Ou seja, para o gol sair, seriam necessários 45 escanteios. Com as faltas lançadas para dentro da área - sem jogada ensaiada -, não é muito diferente.


É por isso que os treinadores deixam sempre dois ou três atletas prontos para pegarem o rebote e darem início ao contra-ataque com celeridade. Foi o que o Náutico fez no lance em que Caíque lançou Roni, que viria a sofrer o pênalti.
Caíque posicionado para o contra-ataque.JPG


O gol madrugador alvirrubro provocou uma inversão de papéis. Se no primeiro tempo o Santa Cruz buscava explorar os contra-ataques, com o tricolor atrás no marcador e se lançando para a frente, era o Náutico que passava a se posicionar atrás para dar o bote e aproveitar a velocidade de Roni e Bérgson.
Contra-ataque Náutico segundo tempo.JPG


Dois minutos depois do gol de Ronaldo Alves, o Náutico esteve próximo de ampliar o marcador em um contra-ataque que se iniciou em uma excelente movimentação de Rodrigo Souza. O volante alvirrubro teve a percepção do lance e se antecipou ao passe de João Paulo, interceptando a bola e dando início ao contra-ataque de Bérgson que quase resultou em mais um gol.
Rodrigo Souza antecipa o passe de João Paulo e faz o corte.JPG


Em sua coletiva após o jogo, Gilmar Dal Pozzo disse que o Santa Cruz foi superior ao Náutico dos quatro aos 20 minutos. O treinador alvirrubro afirmou que seu time se posicionou de forma pouco compacta, com um grande espaço entre os meias e os atacantes. O que foi uma verdade, na recomposição ofensiva timbu. Em compensação, defensivamente, o Náutico se manteve bastante compacto, impedindo a progressão tricolor. Assim, o Santa Cruz só viria a criar perigo em chutes de fora da área (como aquele de Raniel defendido de forma esplendorosa por Rodolpho) e cruzamentos explorando a altura de Grafite.
Compactação defensiva do Náutico no segundo tempo.JPG


Além da compactação defensiva, os atacantes alvirrubros também auxiliavam na marcação. É uma exigência do treinador. Dal Pozzo treina bastante as movimentações de seus homens de frente, para que eles sejam os primeiros defensores da equipe. Foi assim, por exemplo, que João Paulo se viu anulado em diversas ocasiões. Como na imagem abaixo, com Roni e Daniel Morais fechando o meia coral, que viria a perder a bola.
Daniel Morais e Roni fechando João Paulo.JPG


Com a saída de Caíque, o Náutico passou a atuar com três volantes. Porém, é preciso saber diferenciar a posição de origem do jogador para a função que ele exerce em campo, que é ditada pelos espaços que ele ocupa. Na imagem acima, vê-se que Eduardinho voltava sim para compor, em algumas ocasiões, uma linha de três volantes. Porém, com sua versatilidade, o meio-campista atuou na maioria das vezes no mesmo espaço de campo de Caíque, como meia.
Eduardinho.JPG


Por fim, uma sequência de imagens que resume bem a superioridade tática do Náutico. Futebol é um jogo de ocupação de espaços e movimentações. E nesses pontos o time alvirrubro foi melhor que o tricolor. O lance do segundo gol evidencia isso.


Pedrinho Botelho tem a bola, mas não tem linhas de passes, já que os jogadores do Náutico ocupam os espaços para os quais o tricolor poderia tocar a bola e Grafite se encontra isolado à frente (e marcado).
P2020072.JPG


A única opção, ao seu lado, é Wellington Cézar, que também não teria muita marge de progressão. O volante, ao invés de procurar o espaço vazio para dar linha de passe a Pedrinho Botelho, projeta-se para a frente, onde tem a marcação direta de Eduardinho. João Paulo demora a se apresentar. E Gastón sobe para pressionar Pedrinho, que não tem outra alternativa…
P2020073.JPG


...A não ser tentar o passe recuado. Pressionado por Gastón, Pedrinho não consegue tocar com a força necessária. E, no meio do caminho da bola, Bérgson e Thiago Santana já fechavam os espaços no meio de campo. Bérgson intercepta a bola, parte para o ataque e mata o jogo dando números finais ao clássico: Náutico 2 a 0 Santa Cruz.



Náutico 2
Rodolpho; Rafael Pereira, Ronaldo Alves, Fabiano Eller e Gastón; Elicarlos (Fernando Pires) e Rodrigo Souza; Roni, Caíque (Eduardinho) e Bérgson; Daniel Morais (Thiago Santana). Técnico: Gilmar Dal Pozzo.


Santa Cruz 0
Tiago Cardoso; Vitor, Alemão, Danny Morais e Tiago Costa; Wellington Cézar e João Paulo; Lelê (Pedrinho Botelho), Daniel Costa (Renatinho) e Raniel (Bruno Moraes); Grafite. Técnico: Marcelo Martelotte.


Local: Arena Pernambuco (São Lourenço da Mata-PE).
Árbitro: Emerson Sobral (PE)
Assistentes: Fernanda Colombo (PE) e Albert Júnior (PE).
Gols: Ronaldo Alves (2`do 2T, Náutico)
Cartões amarelos: Rodrigo Souza, Bérgson e Elicarlos (Náutico); Lelê, Tiago Costa, Alemão, Danny Morais, João Paulo e Wellington Cézar (Santa Cruz);
Público: 9.296
Renda: R$ 248.610,00

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