sábado, 21 de maio de 2016

Em péssima fase e dependendo de eternos rivais, Dínamo Moscou pode ser rebaixado pela primeira vez na história

Torcida do Spartak provoca rival Dínamo Moscou com bandeira com nomes de clubes da segunda divisão

O futebol chegou à Rússia na década de 1890 e sua Federação foi fundada em janeiro de 1912. Cinco anos depois, quando em 7 de novembro de 1917 os Guardas Vermelhos avançaram sobre o Palácio de Inverno, o Governo Provisório foi derrubado e se instituiu a República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Que em 1922, após a Guerra Civil, viria a se tornar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Mas somente em 1934 surgiria a Federação de Futebol da União Soviética. E só em 1936 haveria a primeira edição do Campeonato Soviético. Desde então, em toda a história do futebol soviético e pós-soviético (o que inclui os campeonatos das ex-repúblicas soviéticas) apenas três clubes nunca foram rebaixados. Dínamo Moscou (Rússia), Dínamo Kiev (Ucrânia) e Dínamo Tibilisi (Geórgia) jamais estiveram ausentes da elite do futebol de seus países. Feito que pode não se manter na temporada 2016/17, já que a história pode ser reescrita neste sábado, 21 de maio. Data que pode ficar marcada como o dia em que o Dínamo Moscou caiu da Premier League russa.

Primeiro campeão soviético, o Dínamo Moscou foi perdendo força e representatividade desde seu último título nacional, há exatos 40 anos, em 1976. De lá para cá, o máximo que conseguiu foram dois vice-campeonatos - 1986 (Soviético) e 1994 (Russo). Nos últimos anos, o clube se viu envolvido em meio a uma turbulência política e financeira. A exclusão das competições europeias por descumprimento do fairplay financeiro da UEFA agravou a crise, fazendo com que tivesse que vender seus principais atletas, dentre eles o francês Valbuena.

É este o contexto que faz com que o Dínamo vá entrar em campo às 7h30 (horário do Brasil) na Arena Khimki tendo pela frente uma difícil missão. Com 25 pontos, o clube que em seus tempos áureos era ligado ao Ministério da Administração Interna (responsável pela KGB) é seguido de perto por FC Ufa e Mordovia Saransk, que somam 24. O problema é que para seguir sendo um dos únicos três clubes do futebol soviético e pós-soviético a nunca ter caído de divisão, o Dínamo vai precisar vencer um de seus rivais mais recentes - Zenit (3º colocado) - e ainda torcer por vitórias de seus rivais moscovitas: Lokomotiv (que briga por mais nada e enfrenta o Mordovia Saransk) e seu arqui-inimigo Spartak (que ainda pode beliscar uma vaga na Liga Europa), que encara o Ufa.

A rivalidade entre Spartak e Dínamo Moscou é a mais antiga do futebol russo. E, nos tempos soviéticos, era a mais acalorada, já que o antagonismo entre as duas agremiações ia bem além das quatro linhas do gramado. Fundado por Lavrenty Beria, braço direito de Stálin e chefe da KGB, o Dínamo era conhecido como o clube da polícia secreta soviética. Por essa razão, várias eram as queixas de rivais contra benefícios à equipe de Beria. O Spartak, por seu turno, era o único clube soviético que não tinha ligação direta a um órgão do Estado. Seu nome, escolhido pelo líder Nikolai Starostin, era uma alusão ao escravo Spartacus que liderou uma rebelião contra Roma. Por essa razão, o Spartak se tornou “o time do povo”.

É verdade que o clássico, que até os anos 1970 fazia parar a União Soviética, tenha perdido sua importância ao longo dos anos, devido à perda de competitividade do Dínamo Moscou. Primeiro, o Dínamo Moscou deu lugar ao Dínamo Kiev como o maior rival do Spartak na União Soviética - uma rivalidade que se manteve mesmo após o fim do país. Depois, o crescimento do CSKA fez com que este tomasse o lugar no maior dérbi da capital russa. Apesar disso tudo, é justamente o passado de antagonismo que faz com que os torcedores do Spartak anseiem por uma vingança contra o antigo rival. Em especial episódios históricos relacionados a Nikolai Starostin e seus irmãos, fundadores do “time do povo”.

Durante a II Guerra Mundial, Nikolai Starostin e seus três irmãos (que também jogavam pelo Spartak) foram presos em 1942 e, depois de dois anos em presídio do Moscou, foram levados as Gulags - campos de trabalhos forçados. O atleta, que era capitão das seleções soviéticas de futebol e hóquei no gelo credita sua sobrevivência à enorme popularidade de que gozava. Mesmo livre dos campos de concentração, Nikolai chegou a ser exilado no Cazaquistão, onde teve que treinar o Kairat Almaty. Sua liberdade só viria em 1953, após a morte de Stálin.

Somente em 1954, 12 anos após sua prisão, Nikolai pôde voltar ao clube que fundou, já como presidente. Perder para o Ufa e ajudar a derrubar o Dínamo Moscou é visto pela torcida do Spartak como uma forma de vingar sua própria história.

Mas o Dínamo depende apenas de si. É que mesmo que o Spartak perca para o Ufa (ou o Lokomotiv Moscou para o Mordovia Saransk), o Dínamo precisa somente de uma vitória em “casa” (a Arena Khimki está para a capital russa como a Arena Pernambuco para os clubes recifenses, digamos assim). O problema, entretanto, é que os “policiais” enfrentam o bom time do Zenit de São Petersburgo. E apesar de já estar praticamente assegurado no terceiro lugar, o Zenit também adoraria ver o Dínamo rebaixado. Especialmente seus torcedores, inimigos declarados do clube da capital.

No que depender dos três rivais que desejam sua queda e de seu péssimo retrospecto recente - sem vencer há dois meses (sete derrotas e um empate) - o Dínamo Moscou, clube do lendário Lev Yashin, parece ter seu destino traçado com seu primeiro encontro com a segunda divisão em toda sua história. Todos os jogos da última rodada da Premier League russa acontecem às 7h30 deste sábado.

Título: entre um gigante e o ineditismo
Embora o grande atrativo da rodada seja a possível queda inédita do histórico Dínamo de Moscou, a última jornada do campeonato russo ainda reserva a briga pelo título. E o troféu de campeão nacional se encontra entre o gigante CSKA Moscou (sete vezes campeão soviético [quarto maior] e cinco vezes campeão russo [segundo]) e o pequeno FC Rostov. A Rússia, por sinal, também tem o seu Leicester. É que além de nunca ter sido campeão, o FC Rostov também brigou para não cair na temporada passada. A equipe cuja melhor classificação no campeonato russo foi um sexto lugar em 1998, teve que disputar os playoffs do rebaixamento para se manter na Premier League. O Rostov chegou a liderar a competição, quando bateu o próprio CSKA por 2 a 0, mas chega à rodada decisiva dois pontos atrás do clube da capital (62 x 60). Tanto CSKA quanto Rostov jogam foram. O líder, que busca seu terceiro título em quatro anos, vai a Kazan encarar o 10º colocado Rubin. Enquanto o vice-líder visita o Terek (sétimo). O CSKA, porém, não joga pelo empate. Isso porque se empatar e o Rostov vencer, é o time do Sul do país que leva o título, graças ao critério de confronto direto.

PS. Aproveitando o ensejo, aviso que em 2017 devo publicar meu trabalho sobre a história do futebol na União Soviética. Um ano simbólico, já que completam-se 100 anos da revolução e a Rússia sedia a Copa das Confederações.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Algumas observações táticas de Náutico 1x0 Salgueiro

Nesta quarta-feira, 10, o Náutico chegou à terceira vitória em três jogos no Campeonato Pernambucano 2016. Diante do vice-líder e até então também invicto Salgueiro - que havia batido o Sport e empatado com o campeão Santa Cruz -, o Timbu encontrou mais dificuldades do que nas duas vitórias anteriores (2 a 0 sobre Santa e Central). No primeiro tempo, a equipe alvirrubra dominou completamente a partida, mas apenas através de bola parada alcançou seu gol. Já no segundo tempo, uma desconcentração tática nos 20 minutos iniciais, quase colocava o triunfo em perigo.

Como tem sido recorrente, a equipe do Náutico procura colocar em prática uma das principais exigências de seu treinador. Dal Pozzo gosta que seu time tenha a posse de bola, afinal quem tem a bola, corre menos riscos. Por isso, o Timbu costuma sair jogando desde o seu campo defensivo, evitando bolas longas, que podem ser quebradas no combate aéreo na intermediária adversária.

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Um dos princípios gerais que norteiam o futebol é a constante procura de criação de superioridade numérica. E o sistema defensivo alvirrubro vem conseguindo ser exitosa neste aspecto em vários momentos do jogo. Em especial no primeiro tempo da partida contra o Salgueiro, em que não deu hipóteses aos sertanejos (cuja única chance nos 45 minutos iniciais foi de chute de fora da área).

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Com a bola, o Salgueiro até se armava para jogar em 4-3-3, com dois meias apoiadores e dois jogadores bem abertos nas pontas. Esbarrava, entretanto, na consistência defensiva alvirrubra.

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Outra característica tática do Náutico é que o sistema defensivo não se resume aos volantes, laterais e zagueiros. A marcação costuma se iniciar com os atacantes pressionando os adversários que saem com a bola. O sistema ofensivo alvirrubro é o responsável pelo primeiro combate, auxiliando o defensivo.

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Rodrigo Souza voltou a se destacar como um volante construtor, aparecendo para o jogo, criando linhas de passes, e fazendo o time jogar, com passes e conduzindo a bola nos espaços vazios. Foi dos pés dele que o Náutico construiu suas melhores chances com a bola rolando na etapa inicial. Na imagem abaixo, outras duas observações - a amplitude ofensiva criada pelos dois laterais alvirrubros e a movimentação de Bérgson, em busca de desequilíbrios na fechada defesa salgueirense.

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Apesar de apresentar bons princípios estruturais de ataque, o Náutico encontrava dificuldade para progredir no setor ofensivo, esbarrando no bom sistema defensivo do Salgueiro, armado em 4-1-4-1, com as linhas bem compactas. Não por acaso, o gol alvirrubro saiu de bola parada (escanteio cobrado por Bérgson, para boa cabeceada de Daniel Morais).

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No segundo tempo, o Náutico voltou a campo desconcentrado. E a entrega tática demandado pelo modelo de jogo de Gilmar Dal Pozzo pressupõe máxima concentração por parte dos jogadores, para que cumpram as orientações técnico-táticas do treinador. Isso não aconteceu nos primeiros 22 minutos da etapa complementar.

Apático, sem intensidade ofensiva e frágil no balanço defensivo, o Timbu viu o Salgueiro tomar conta do jogo. Dal Pozzo reconheceu, após o confronto, que o Náutico recuou em demasia, ao invés de seguir marcando o Carcará em seu campo defensivo. Permitindo, assim, o crescimento dos sertanejos no jogo, que passavam a colocar mais homens na intermediária alvirrubra, criando desequilíbrios, como o que resultou no pênalti.

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Dal Pozzo percebeu o melhor momento da equipe visitante e fez entrar em campo Eduardinho e Ratão, para o lugar de Caíque e Daniel Morais, na tentativa de ganhar fôlego novo e, assim, recuperar o controle da posse de bola, bem como ter maior movimentação ofensiva. Deu certo. O Náutico equilibrou a partida e na base da velocidade - em especial de Rony pelo lado direito do ataque - conseguiu chegar à área do Salgueiro. As chances criadas, porém, foram desperdiçadas e o placar se manteve em Náutico 1 a 0 Salgueiro.

Ficha

Náutico 1
Júlio César; Rafael Pereira, Ronaldo Alves, Fabiano Eller e Gastón; Elicarlos e Rodrigo Souza; Bérgson (Thiago Santana), Caíque (Eduardinho) e Rony; Daniel Morais (Rafael Ratão). Técnico: Gilmar Dal Pozzo.

Salgueiro 0
Mondragon, Marcos Tamandaré, Ranieri, Rogério e Daniel; Rodolfo Potiguar (Nilson), Moreilândia (Paulinho Mossoró), Alexon (Anderson Lessa) e Jeferson Berger; Cassio e Piauí. Técnico: Sérgio China

Local: Arena Pernambuco (São Lourenço da Mata-PE). Árbitro: Sebastião Rufino Ribeiro Filho. Assistentes: Bruno Cesar Chaves Vieira e Cleberson Nascimento Leite. Gol: Daniel Morais (Náutico). Cartões amarelos: Gastón, Daniel Morais, Ronaldo Alves (Náutico); Moreilândia, Jeferson Berger, Ranieri, Rogério, Nilson (Salgueiro). Público: 2893. Renda: R$ 56.775,00.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Algumas observações táticas de Sport 0x1 América

Um deserto de ideias. Um time em completa reformulação - do meio para a frente - que demonstra extrema dificuldade na construção de seu processo ofensivo. Um erro de saída de bola e uma defesa inexplicavelmente descompactada e sem equilíbrio. O resumo de uma noite que se tornou histórica. Das deficiências táticas e incompetência técnica do Sport à eficácia fatal do América. Nesta quarta-feira, 3, o Periquito bateu o Leão por 1 a 0. Foi a primeira vitória americana contra o rubro-negro desde 1973 (76 jogos) e a primeira derrota do Sport na Ilha do Retiro depois de 30 jogos.

O Sport inicia o ano de 2016 em reconstrução. Se o sistema defensivo seguiu intacto em relação a 2015, do meio de campo para a frente - com exceção de Rithely -, o Leão apresenta um time completamente novo. Fato que somado à falta de contratação de um meio-campista prejudica o começo de temporada do Leão, que se vê em um deserto de ideias no meio de campo, o que o prejudica quando enfrenta um time que se fecha em seu setor defensivo, marcando, na maioria das vezes, com todos (ou praticamente todos) os seus jogadores atrás da linha da bola.

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Contra um adversário fechado, o Sport demonstrou que está longe de atingir as rotinas de jogo no setor ofensivo. Falta entrosamento, o que se evidencia na ausência de vários princípios princípios estruturais de ataque. Como na sequência de imagens abaixo, em que Durval sai com a bola e não tem apoio.

A defesa do América está postada de forma a fechar as linhas de passe do zagueiro rubro-negro. Na falta de apoio - ou seja, a aproximação de companheiros que oferecessem linhas de passe - e mobilidade - a movimentação dos jogadores sem a bola, dificultando a marcação fechada, visando à criação de passes bem como, também, a formação de linhas de passe -, Durval não tem alternativa a não ser tentar o passe longo. Um “recurso” explorado bastante no jogo e que, tal como nesse lance, redundava quase sempre em perda de bola.
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Éverton Felipe era o jogador que deveria estar mais centralizado no meio de campo rubro-negro. O garoto, entretanto, caía com frequência no lado direito do ataque. O que ajuda a explicar o deserto de ideias do Sport, que carecia de um articulador pela zona central do gramado. Apesar disso, é necessário dizer que algumas das melhores oportunidades do Leão na primeira etapa saíram de jogadas individuais de Éverton, que partia na diagonal da direita para dentro da área.

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Sem conseguir penetração, os jogadores do Sport, assim que chegavam ao último terço do campo pelas laterais, abusavam nos cruzamentos para a área, em busca de Túlio de Melo, que desperdiçou todas as chances que teve - e não foram poucas. A ultrapassagem de Renê, dando a Rithely uma linha de passe inteligente, foi algo raro na construção ofensiva do Leão. Não rara foi a forma como Túlio de Melo não conseguiu dominar a bola após o cruzamento do lateral esquerdo.

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No primeiro tempo, o Sport esteve perto de abrir o placar com Durval aproveitando um lance de escanteio. E se nota claramente que se tratou de uma jogada ensaiada, ou seja, desenvolvida nos treinamentos. O escanteio é cobrado aberto, à procura do zagueiro rubro-negro. Um lance a ser observado pelos futuros adversários do Leão.

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Falcão disse que seu time jogou bem e que o resultado foi injusto. O Sport teve o controle da posse de bola. Mas, o América também se recusou a ter a bola, optando por se defender. E ter a bola sob controle não significa que o time esteja bem. Jogar bem é saber o que fazer com a bola. E o time rubro-negro, como foi exposto acima, mostrou várias deficiências na construção ofensiva e isso aconteceu pela falta, neste momento da temporada, de princípios estruturais de ataque.

Se no primeiro tempo América não conseguiu encaixar nenhum contra-ataque e se limitou a marcar atrás da linha da bola, entre os nove minutos da segunda etapa e o gol de Danyel, a equipe alviverde adiantou sua marcação. E nesse curto período de tempo - quatro minutos -, o América conseguiu complicar a saída de bola do Sport. O gol não foi fruto do acaso. Mas do erro na saída do sistema defensivo rubro-negro.

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Na sequência acima, a pressão do América força que Matheus Ferraz devolva a bola para Danilo Fernandes, que passa para Durval, que, pressionado, livra-se da bola e termina mandando-a direto para fora.

O lance do gol de Danyel também foi uma falha na saída de bola. Serginho - no único erro que cometeu em toda a noite (até então e, mesmo depois, não foi mal no jogo) - bateu uma falta que foi interceptada no meio de campo. Ao equívoco de Serginho se somam falhas em princípios estruturais de todo o sistema defensivo rubro-negro.

Principalmente, a falta de compactação - dando espaço a Alex Gaibu e Carlinho Bala - e equilíbrio, com o lado direito da defesa aberto, já que Samuel Xavier estava bem à frente, mesmo com a bola tendo saído do lado esquerdo da defesa. O buraco deixado pelo lateral direito, por sinal, não teve a devida cobertura e, na falha do balanço, Danyel penetrou na defesa do Leão e marcou o gol da vitória do América.

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As substituições de Falcão desmontaram ainda mais o time. A entrada do lateral direito Maicon para ser um meio-campista que caía constantemente no lado esquerdo do ataque contribuiu apenas para deixar o enorme vazio na faixa central de campo.
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Percebendo isso, o treinador colocou o garoto Fábio, no lugar de Renê, para atuar no meio. Assim, recuou Mark González para fazer a ala esquerda. Cansado pelo desgaste da partida e do início da temporada, o chileno, obviamente, não teve pernas para cobrir o lado esquerdo do campo.
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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Algumas observações táticas de Náutico 2x0 Santa Cruz

Na última segunda-feira, 1º, o Náutico recebeu e bateu o Santa Cruz por 2 a 0 na Arena Pernambuco. Quem quiser, pode conferir a crônica do jogo que escrevi para o Superesportes do Diario de Pernambuco AQUI. Neste texto, farei algumas observações táticas do Clássico das Emoções, mostrando alguns pontos que evidenciam a superioridade tática alvirrubra, que resultou na vitória do Náutico.


Náutico e Santa Cruz apresentaram estratégias de jogos bem distintas. Os alvirrubros priorizavam a posse de bola e tentavam progredir em campo, na base do jogo construído desde a sua defesa - Rodolpho, por exemplo, batia os tiros de meta sempre para um dos zagueiros.
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Enquanto os tricolores apostavam nos lançamentos longos - Tiago Cardoso sempre cobrava os tiros de meta em direção ao meio de campo - e contra-ataques.


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No sistema defensivo, quando já se encontrava em fase de defesa, o Náutico demonstrava bastante compactação, o que facilitava as dobras na marcação do jogador adversário que estivesse com a bola.


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Marcação sobre o homem que tem a bola.JPG


O treinador do Náutico, Gilmar Dal Pozzo, prioriza a posse de bola como forma de controlar o jogo. Quem tem a bola, corre menos riscos. É o que diz Guardiola, por exemplo. E o Timbu controlava as ações da partida. Para isso, contou com uma atuação impecável de Rodrigo Souza. Como um volante construtor, o jogador aparecia para o jogo, criando linhas de passes, e fazia o time jogar, fazendo passes e conduzindo a bola nos espaços vazios.


Rodrigo Souza volante construtor.JPG
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Apesar de controlar o jogo, o Náutico chegava pouco à área adversária e, por vezes, ao perder a bola no meio de campo ofensivo, permitia ao Santa Cruz alguns contra-ataques. O tricolor aproveitava os espaços deixados pela falta de dinâmica na recomposição defensiva timbu, que por vezes tinha Elicarlos sozinho no primeiro combate de proteção à defesa. Foi assim que o Santa Cruz, apesar de ter menos a posse da bola na etapa inicial, conseguiu chutar mais vezes ao gol alvirrubro. Porém, sem profundidade e amplitude, o tricolor apostava em chutes de fora da área, como os de Daniel Costa e Raniel (que chutou mesmo depois de um impedimento mal assinalado).
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Ao intervalo, o zero no placar fazia justiça ao que foi apresentado pelas duas equipes no primeiro tempo.


Um lance logo no início da segunda etapa mudaria a partida completamente. O Santa Cruz teve uma falta próxima à área do Náutico com um minuto de jogo. E aí entra o trabalho de campo desenvolvido pelo treinador ao longo do dia a dia. Bolas alçadas à área são uma excelente oportunidade de contra-ataques.


Um estudo feito na temporada 2010/11 na Premier League apontou, por exemplo, que apenas um em cada nove escanteios resultava em finalização e somente uma finalização em cada cinco dava em gol. Ou seja, para o gol sair, seriam necessários 45 escanteios. Com as faltas lançadas para dentro da área - sem jogada ensaiada -, não é muito diferente.


É por isso que os treinadores deixam sempre dois ou três atletas prontos para pegarem o rebote e darem início ao contra-ataque com celeridade. Foi o que o Náutico fez no lance em que Caíque lançou Roni, que viria a sofrer o pênalti.
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O gol madrugador alvirrubro provocou uma inversão de papéis. Se no primeiro tempo o Santa Cruz buscava explorar os contra-ataques, com o tricolor atrás no marcador e se lançando para a frente, era o Náutico que passava a se posicionar atrás para dar o bote e aproveitar a velocidade de Roni e Bérgson.
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Dois minutos depois do gol de Ronaldo Alves, o Náutico esteve próximo de ampliar o marcador em um contra-ataque que se iniciou em uma excelente movimentação de Rodrigo Souza. O volante alvirrubro teve a percepção do lance e se antecipou ao passe de João Paulo, interceptando a bola e dando início ao contra-ataque de Bérgson que quase resultou em mais um gol.
Rodrigo Souza antecipa o passe de João Paulo e faz o corte.JPG


Em sua coletiva após o jogo, Gilmar Dal Pozzo disse que o Santa Cruz foi superior ao Náutico dos quatro aos 20 minutos. O treinador alvirrubro afirmou que seu time se posicionou de forma pouco compacta, com um grande espaço entre os meias e os atacantes. O que foi uma verdade, na recomposição ofensiva timbu. Em compensação, defensivamente, o Náutico se manteve bastante compacto, impedindo a progressão tricolor. Assim, o Santa Cruz só viria a criar perigo em chutes de fora da área (como aquele de Raniel defendido de forma esplendorosa por Rodolpho) e cruzamentos explorando a altura de Grafite.
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Além da compactação defensiva, os atacantes alvirrubros também auxiliavam na marcação. É uma exigência do treinador. Dal Pozzo treina bastante as movimentações de seus homens de frente, para que eles sejam os primeiros defensores da equipe. Foi assim, por exemplo, que João Paulo se viu anulado em diversas ocasiões. Como na imagem abaixo, com Roni e Daniel Morais fechando o meia coral, que viria a perder a bola.
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Com a saída de Caíque, o Náutico passou a atuar com três volantes. Porém, é preciso saber diferenciar a posição de origem do jogador para a função que ele exerce em campo, que é ditada pelos espaços que ele ocupa. Na imagem acima, vê-se que Eduardinho voltava sim para compor, em algumas ocasiões, uma linha de três volantes. Porém, com sua versatilidade, o meio-campista atuou na maioria das vezes no mesmo espaço de campo de Caíque, como meia.
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Por fim, uma sequência de imagens que resume bem a superioridade tática do Náutico. Futebol é um jogo de ocupação de espaços e movimentações. E nesses pontos o time alvirrubro foi melhor que o tricolor. O lance do segundo gol evidencia isso.


Pedrinho Botelho tem a bola, mas não tem linhas de passes, já que os jogadores do Náutico ocupam os espaços para os quais o tricolor poderia tocar a bola e Grafite se encontra isolado à frente (e marcado).
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A única opção, ao seu lado, é Wellington Cézar, que também não teria muita marge de progressão. O volante, ao invés de procurar o espaço vazio para dar linha de passe a Pedrinho Botelho, projeta-se para a frente, onde tem a marcação direta de Eduardinho. João Paulo demora a se apresentar. E Gastón sobe para pressionar Pedrinho, que não tem outra alternativa…
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...A não ser tentar o passe recuado. Pressionado por Gastón, Pedrinho não consegue tocar com a força necessária. E, no meio do caminho da bola, Bérgson e Thiago Santana já fechavam os espaços no meio de campo. Bérgson intercepta a bola, parte para o ataque e mata o jogo dando números finais ao clássico: Náutico 2 a 0 Santa Cruz.



Náutico 2
Rodolpho; Rafael Pereira, Ronaldo Alves, Fabiano Eller e Gastón; Elicarlos (Fernando Pires) e Rodrigo Souza; Roni, Caíque (Eduardinho) e Bérgson; Daniel Morais (Thiago Santana). Técnico: Gilmar Dal Pozzo.


Santa Cruz 0
Tiago Cardoso; Vitor, Alemão, Danny Morais e Tiago Costa; Wellington Cézar e João Paulo; Lelê (Pedrinho Botelho), Daniel Costa (Renatinho) e Raniel (Bruno Moraes); Grafite. Técnico: Marcelo Martelotte.


Local: Arena Pernambuco (São Lourenço da Mata-PE).
Árbitro: Emerson Sobral (PE)
Assistentes: Fernanda Colombo (PE) e Albert Júnior (PE).
Gols: Ronaldo Alves (2`do 2T, Náutico)
Cartões amarelos: Rodrigo Souza, Bérgson e Elicarlos (Náutico); Lelê, Tiago Costa, Alemão, Danny Morais, João Paulo e Wellington Cézar (Santa Cruz);
Público: 9.296
Renda: R$ 248.610,00

domingo, 24 de janeiro de 2016

Observações táticas do amistoso de pré-temporada Náutico 2x0 Botafogo-PB

Este ano, vou dar início, neste blog, a uma série de observações táticas. Como setorista do Náutico no Superesportes do Diario de Pernambuco, minha primeira análise vai ser de um jogo do Timbu. Neste sábado (23), o Náutico encarou o Botafogo-PB em seu último teste de pré-temporada, antes da estreia no Campeonato Pernambucano, no Clássico das Emoções. Claro, trata-se apenas da segunda partida do time em 2016 (sem contar os jogos-treino contra a Agap-PE), então, qualquer interpretação deve levar em conta o fato de estarmos diante de um time que ainda se encontra em formação.


Para o jogo, Dal Pozzo pretendia experimentar um novo sistema tático, para servir de alternativa ao 1-4-2-3-1 utilizado na reta final da Série B 2015. Para isso, o treinador alvirrubro praticou ao longo de toda a semana atividades utilizando esquema 1-4-1-4-1. Organização que havia funcionado no jogo-treino com a Agapa, mas que o técnico queria provar diante de um adversário de nível competitivo mais elevado.


Assim, o Náutico entrou em campo com Rodolpho; Rafael Pereira, Ronaldo Alves, Fabiano Eller e Gastón; Elicarlos; Roni, Eduardinho, Renan Oliveira e Bérgson; Thiago Santana. Que deveriam estar dispostos em campo da seguinte maneira.


Formação inicial de Náutico x Botafogo-PB 23-01-2016.jpg


Na primeira etapa, entretanto, em que pese o Náutico tenha dominado a posse de bola, a equipe alvirrubra foi incapaz de corresponder à pretensão do treinador. O Timbu procurava sair com a bola dominada desde a sua defesa e controlava as ações do jogo a partir daí. Entretanto, a supremacia da posse de bola alvirrubra não se traduzia em pressão sobre o adversário, uma vez que o time jogava em progressão lenta, sem intensidade e sem buscar penetrações e muito menos amplitude e profundidade ofensivas. O que facilitou a marcação individual do Botafogo-PB, que veio para a Arena disposto a jogar em contra-ataque.


Dal Pozzo treinou bastante, ao longo da semana que antecedeu o amistoso, a compactação do time (tanto defensiva, quanto ofensiva). Em termos ofensivos, contudo, o que se viu em campo foi um meio de campo descompactado, com o volante Elicarlos jogando muito afastado do meia armador, Renan Oliveira, deixando um enorme buraco no setor central do gramado.


Problema que poderia ter sido colmatado caso o time tivesse efetivamente jogado em 1-4-1-4-1, o que não se verificou na prática. Isso porque Roni e Bérgson, ao invés de compactarem mais no meio de campo no momento da transição ofensiva, adiantavam-se para o ataque, formando uma linha de três ofensiva, deixando o Náutico com três atacantes e, por conseguinte, não preenchendo o meio.


Observações que podem ser verificadas na imagem abaixo.


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Além disso, como foi dito, o time carecia de amplitude e profundidade. Se Bérgson e Roni avançavam e formavam uma linha de três no ataque, poderiam ter procurado dar maior largura ofensiva ao time, abrindo nas pontas, ao invés de centralizarem em demasia no campo. Os três, incluindo Thiago Santana, tentavam dar mobilidade ao ataque, movimentando-se bastante e trocando de posições entre eles. Contudo, nenhum dos três forçava a defesa do Botafogo-PB a recuar, facilitando à marcação compactada dos paraibanos. No que tange à amplitude, os laterais Gastón e Rafael Pereira ainda procuravam alargar o jogo alvirrubro, mas esse movimento se restringia à transição ofensiva.


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No início do segundo tempo, o Botafogo-PB adiantou suas linhas, procurando surpreender o Náutico. Dal Pozzo logo percebeu a mudança de postura do adversário e desistiu do 1-4-1-4-1, retornando ao 1-4-2-3-1, sistema que passa mais garantias ao treinador. Eduardinho recuou em campo, passando a atuar mais ao lado de Elicarlos, à frente da zaga, dando maior segurança defensiva. Alteração que permitiu ao Timbu voltar a controlar o jogo.


Formação do 2º tempo de Náutico x Botafogo-PB 23-01-2016.jpg


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O Náutico seguia, contudo, com a transição ofensiva lenta e sem intensidade, procurando suprir esta lacuna em passes longos, tentando explorar as costas da defesa do time paraibano. Não foi de espantar, portanto, que os gols alvirrubros tenham saído de bola parada (ambos de pênalti, convertidos por Ronaldo Alves).


Após o primeiro gol timbu, o Botafogo-PB fez logo três alterações de uma vez. Os paraibanos fariam, ainda, oito substituições. Enquanto o Náutico promoveu cinco mudanças. Com tantas trocas, o jogo perdeu, naturalmente, em qualidade técnica, fazendo com que uma análise tática aos minutos finais ficasse comprometida.

Se Gilmar Dal Pozzo queria usar o amistoso como parâmetro para tirar dúvidas quanto ao sistema tático a ser utilizado na estreia do Pernambucano, certamente saiu de campo com algumas indefinições. Ou, uma certeza: de que vai ter muito trabalho ao longo da próxima semana para colocar nos eixos o setor de meio de campo e ataque do Náutico. O que, por sinal, é natural, nesta altura do ano.