quarta-feira, 24 de julho de 2013

Para o adiante: a ânsia por se transformar em história

Esta noite o Atlético-MG joga a partida mais importante de sua história. 90 minutos separam o Galo da glória ou da decepção. Usei como inspiração o meu saudoso avô, Waldimir Maia Leite, no texto que escrevi sobre a busca implacável do Atlético-MG pelo inédito título da Copa Libertadores. Para o adiante, Clube Atlético Mineiro.

“Para o adiante, o inevitável prosseguir, pleno de incertezas”, lembrando as palavras do poeta pernambucano Waldimir Maia Leite, o Atlético-MG se encontra diante de seu momento de incertezas, em que é inevitável não prosseguir para o adiante. De sua própria história. Até aqui, 13 jogos. 1170 minutos de bola rolando. Uma emocionante decisão por pênaltis e uma defesa histórica do goleiro Victor pelo meio desses passos que já foram dados. Às 21h50 desta quarta-feira, quando pisarem o gramado do reformulado Mineirão, os jogadores do Galo estarão a um passo da história. 90 minutos. Lapso temporal que há de ser sentido como o sentir de uma vida inteira. É o tempo que separa o Galo da glória. Ou da decepção. “Para o adiante, extensão de querer ser, constituir, permanecer. Vão os passos para o adiante”, para cima do Olimpia, o rei de copas paraguaio. “Para o depois, isto: o ser futuro, nascer. Quanto vale a eternidade?”. É o que Ronaldinho, Bernard, Jô, Victor e companhia hão de responder.

O time mineiro, contudo, tem um desfalque de peso. Devido ao regulamento da competição, o Galo não poderá atuar no alçapão do Independência, espécie de amuleto da equipe. Para entender a importância da relação do Atlético-MG com o estádio, basta ver os números. Em 2013, foram 15 jogos no Independência. 13 vitórias e dois empates. Em compensação, no novo Mineirão, palco da grande decisão, o alvinegro mineiro disputou três partidas este ano. Apenas uma vitória, contra o Villa Nova. E duas derrotas. Ambas como visitante, por 2 a 1, para o rival Cruzeiro. Entretanto, os comandados de Cuca se apegam a um outro dado. A invencibilidade como mandante. Desde novembro de 2011 o Galo não sabe o que é perder quando manda uma partida. Ao todo, 53 jogos imbatíveis.

Precisando inverter uma desvantagem de 2 a 0, Cuca contará com um reforço significativo. O jovem Bernard, que deverá fazer sua despedida do clube, volta a estar disponível. Após cumprir suspensão na partida de ida - e ter feito muita falta ao time - Bernard retorna para recompor o quarteto ofensivo do Galo com Ronaldinho, Diego Tardelli e Jô. “Em todas as situações da vida tem um lado positivo e negativo. Temos o lado positivo no Independência de nunca ter perdido. E aqui no Mineirão, é o público maior e a pressão maior. Mas eu não vivo de superstição. O que está escrito, vai acontecer e nada vai mudar”, disse. Se está escrito ou não, depende da crença de cada um. Mas uma coisa é certa. Como preconizou o poeta pernambucano, “para a frente todos os aconteceres: sempre para o adiante. Não ficar, desesperadamente sair como quem se despede para nunca mais”. Ou para a eternidade.

Estádio lotado
A expectativa de público é de 60 mil pagantes e a renda pode ultrapassar os R$ 8 milhões. Dessa forma, seria o maior público do Mineirão depois da reforma para a Copa do Mundo. Superaria o confronto entre Brasil e Uruguai, que teve 57.783 pagantes, pela Copa das Confederações.


O rei de copas

Não é por acaso que o Olimpia é chamado no Paraguai de “rei de copas”. O clube alvinegro já conquistou a maior competição do continente três vezes (1979, 1990 e 2002). Esta decisão frente ao Atlético-MG é nada menos que a sétima final de Libertadores do gigante paraguaio, que pode escrever seu nome no rol de glórias da competição. Está a uma partida de ser o primeiro clube da história a conquistar o torneio em quatro décadas diferentes. E um trunfo. Seus três títulos foram obtidos na condição de visitante. Assim como o Olimpia jogará na noite de hoje.

Ao Galo, resta a expectativa de repetir o que outro Atlético já fez uma vez. Em 1989, o Olimpia venceu o Atlético de Medellín por 2 a 0 na partida de ida. No jogo de volta, na Colômbia, o Atlético bateu os paraguaios, também por 2 a 0. Nos pênaltis, os colombianos foram mais felizes - 5 a 4 - e ficaram com a taça.

Se for campeão, o Olimpia se junta ao Estudiantes (ARG) como o quarto maior conquistador das Américas, deixando para trás o Nacional (URU) e os brasileiros São Paulo e Santos, que têm três títulos.

As finais do Olimpia

1960 - Peñarol campeão

Peñarol 1x0 Olimpia
Olimpia 1x1 Peñarol

1979 - Olimpia campeão

Olimpia 2x0 Boca Juniors
Boca Juniors 0x0 Olimpia

1989 - Atlético de Medellín campeão

Olimpia 2x0 Atlético de Medellín
Atlético de Medellín 2x0 Olimpia (Atlético de Medellín 5x4 nos pênaltis)

1990 - Olimpia campeão

Olimpia 2x0 Barcelona de Guayaquil
Barcelona de Guayaquil 1x1 Olimpia

1991 - Colo-Colo campeão

Olimpia 0x0 Colo-Colo
Colo-Colo 3x0 Olimpia

2002 - Olimpia campeão

Olimpia 0x1 São Caetano
São Caetano 1x2 Olimpia (Olimpia 4x2 nos pênaltis)

Invencibilidade do Atlético-MG como mandante

53
jogos

42
vitórias

11
empates

124
gols marcados

37
gols sofridos

Atlético-MG no novo Mineirão

03/02/2013 Cruzeiro 2x1 Atlético-MG
21/04/2013 Atlético-MG 2x1 Villa Nova
19/05/2013 Cruzeiro 2x1 Atlético-MG

3
jogos

1
vitória

2
derrotas

4
gols marcados

5
gols sofridos

Ficha técnica

Atlético-MG: Victor; Michel (Rosinei), Rafael Marques, Gilberto Silva e Júnior César; Pierre, Josué e Ronaldinho; Bernard, Diego Tardelli e Jô. Técnico: Cuca.

Olimpia: Martín Silva; Julio Manzur, Herminio Miranda e Salustiano Candia; Nelson Benítez, Mazacotte, Eduardo Aranda, Wilson Pittoni e Alejandro Silva; Fredy Bareiro e Juan Manuel Salgueiro. Técnico: Ever Hugo Almeida.

Local: Estádio Mineirão (Belo Horizonte). Hora: 21h50. Árbitro: Wilmar Roldan (COL). Assistentes: Humberto Clavijo (COL) e Eduardo Ruiz (COL).

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O sonho comanda a vida

Dentro de instantes o Atlético-MG entra em campo pelo jogo de volta da semifinal da Copa Libertadores da América. O Galo precisa inverter um resultado de 2 a 0 sofrido na partida de ida. Difícil, porém não impossível. E os atleticanos sonham com a primeira participação na final da maior competição de clubes das Américas. Escrevi assim para a edição desta quarta-feira (10) do SuperEsportes.

O sonho comanda a vida

“Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer.” A maioria dos torcedores do Atlético-MG provavelmente não deve conhecer o poema Pedra Filosofal, do português António Gedeão. Desde que o arbitro Enrique Osses apitou, na quarta-feira da semana passada, o fim de Newell’s Old Boys 2 a 0 Galo (na partida de ida da semifinal da Copa Libertadores), entretanto, a massa alvinegra vive em função de um sonho. Agarrando-se a um fio de esperança, vivencia na prática o que o poeta lusitano proclamara: “Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida.” E o técnico Cuca deixou isso bem claro, ao expressar o sonho atleticano. “Yes, we CAM”, era a mensagem que se lia na camisa do treinador na vitória do Galo por 3 a 2 sobre o Criciúma, pelo Brasileirão. Eis que chegou o momento decisivo. Às 21h50, no estádio Independência, o Atlético encara o Newell’s precisando inverter o resultado adverso, para ir à final da Libertadores.

Para impedir que o sonho se transforme em pesadelo e a tão esperada participação na final - em busca de um título inédito em sua história, mas que o rival Cruzeiro já celebrou duas vezes - seja adiada, o Atlético-MG conta com um trunfo. Jogar dentro de casa. Desde novembro de 2011 o Galo não sabe o que é perder na condição de mandante. Ao todo, são 52 jogos de invencibilidade. Nessa sequência, o Galo conseguiu 22 vezes os resultados que precisa obter hoje. Foram 14 vitórias por três ou mais gols de diferença e outras oito por 2 a 0 (que levaria a decisão para os pênaltis). Em 2013, atuando no Independência, o alvinegro venceu, em 14 partidas, por pelo menos três gols de diferença em oito delas, ou seja, 57% das vezes.

A estatística ajuda a alimentar o sonho. A comandar a esperança da torcida do Galo. Contudo, o time necessita apresentar evolução técnica em relação às últimas apresentações. Nas quartas de fial da Libertadores, por exemplo, o Atlético só não foi eliminado pelo Tijuana graças a uma intervenção história do goleiro Victor, que defendeu um pênalti nos acréscimos. Cientes disso, os jogadores do Galo prometem partir para cima dos argentinos nos minutos iniciais. “O pensamento é conseguir fazer o primeiro gol em 20 minutos, mas o jogo tem 90. É paciência, e pressão desde começo”, afirmou o centroavante Jô.

Newell’s atrasou chegada a Belo Horizonte

Ao contrário do que é protocolar em partidas de competições internacionais, o time argentino não fez questão de realizar o treinamento de reconhecimento do gramado do estádio Independência. Na realidade, o Newell’s Old Boys optou por somente viajar para Belo Horizonte na tarde de ontem, após treinar  e almoçar ainda em Rosario.

Ficha técnica

Atlético-MG: Victor; Marcos Rocha, Rafael Marques, Gilberto Silva e Richarlyson; Pierre, Josué e Ronaldinho; Bernard, Diego Tardelli e Jô. Técnico: Cuca.

Newell’s Old Boys: Nahuel Guzmán; Marcos Cáceres, Santiago Vergini, Gabriel Heinze e Milton Casco; Lucas Bernardi, Diego Mateo e Rinaldo Cruzado; Víctor Figueroa, Ignacio Scocco e Maximiliano Rodríguez. Técnico: Gerardo Martino.

Local: Estádio Independência (Belo Horizonte). Hora: 21h50. Árbitro: Roberto Silvera (URU). Assistentes: Miguel Nievas (URU) e Carlos Pastorino (URU).

Invencibilidade como mandante

52
jogos

41
vitórias

11
empates

122
gols marcados

37
gols sofridos
Jogos no Independência em 2013
Atlético-MG 2 x 1 São Paulo (Libertadores)
Atlético-MG 3 x 0 Araxá (Mineiro)*
Atlético-MG 3 x 1 Guarani (Mineiro)
Atlético-MG 2 x 1 The Strongest-BOL (Libertadores)
Atlético-MG 5 x 2 América-MG (Mineiro)*
Atlético-MG 4 x 1 Tupi (Mineiro)*
Atlético-MG 5 x 2 Arsenal-ARG (Libertadores)*
Atlético-MG 4 x 0 Boa Esporte (Mineiro)*
Atlético-MG 5 x 1 Tombense (Mineiro)*
Atlético-MG 4 x 1 São Paulo (Libertadores)*
Atlético-MG 3 x 0 Cruzeiro (Mineiro)*
Atlético-MG 1 x 1 Tijuana-MEX (Libertadores)
Atlético-MG 0 x 0 São Paulo (Brasileirão)
Atlético-MG 3x2 Criciúma (Brasileirão)
*57%
percentual de vitórias por pelo menos três gols de diferença