domingo, 25 de novembro de 2012

Único pernambucano na elite do futebol nacional

É muito grande a possibilidade de o Náutico ser o único representante de Pernambuco na elite do futebol brasileiro. Muita gente, entretanto, pensa que esta será a primeira vez na história do Campeonato Brasileiro que o Náutico estará sozinho como clube pernambucano na elite. Mas não é assim.

A se confirmar o rebaixamento do Sport no próximo domingo (o rubro-negro tem que ganhar do Náutico nos Aflitos e torcer por uma derrota de Portuguesa ou Bahia, para permanecer na Série A em 2013), esta será a oitava vez que o Náutico representará, sozinho, o estado de Pernambuco na elite. Desta forma, vai se igualar ao Sport, que em oito ocasiões foi o único pernambucano na elite nacional.

Vale ressaltar que eu levo em consideração todos os campeonatos nacionais a partir da Taça Brasil de 1959, de acordo com a unificação da própria CBF (que ocorreu em 2010). É por conta dessa unificação, por exemplo, que todos se referem ao título do Fluminense como o quarto nacional de sua história. Sobre o tema, é possível ler minha opinião aqui: Unificação dos títulos do campeonato brasileiro.

É possível que se diga que entre 1959 e 1970 (Taça Brasil e Taça de Prata – Robertão) não havia segunda divisão. É bom lembrar, então, que de 1973 a 1979 só houve a 1ª Divisão. Para não falar de campeonatos como os de 1987 ou 2000 (cada um com sua peculiaridade).

Por fim, mesmo que você queira insistir que não se devam levar em consideração as Taças Brasil e de Prata, 2013 não será o primeiro ano do Náutico como único pernambucano na Série A/1ª Divisão. Em 1990, o alvirrubro foi o único representante de Pernambuco na elite nacional.

Sport, 8 vezes: 1959, 1962, 1963, 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999
Náutico, 7 vezes: 1961, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968* e 1990
Santa Cruz, 3 vezes: 1960, 1969 e 1970.

*O Náutico foi o único pernambucano tanto na Taça Brasil quanto na Taça de Prata (Robertão).

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Alepe aprova: álcool sim, meia-entrada não



Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que sempre fui contrário à legislação que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol de Pernambuco.

E minha posição sempre se fundamentou no fato de eu acreditar que a violência entre as torcidas de futebol não ocorre por conta do consumo de bebida alcoólica dentro do estádio. E por diversos motivos.

Por exemplo, as bebidas são consumidas livremente nos arredores das praças esportivas (pior: dentro das áreas sociais dos próprios clubes). Além disso, o grande foco de violência em torno do futebol em nosso país ocorre nos confrontos entre as torcidas organizadas, o que independe do consumo de álcool (e até mesmo dos jogos de futebol em si), como pudemos verificar nesta semana, nas brigas entre Fanáutico e Torcida Jovem.

Em suma, o problema da violência no futebol brasileiro é estrutural. Proibir a venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios é uma medida inócua, pois ela não combate o mal em sua essência e não contribui em nada para a reestruturação dos eventos esportivos locais.

Posto isto, passo a comentar o recente projeto que foi aprovado pela Assembleia Legislativa de Pernambuco.

A Alepe aprovou o consumo de bebidas alcoólicas na Arena Pernambuco durante os jogos das Copas das Confederações e do Mundo. Também foi aprovada a determinação de que não haverá o direito à meia-entrada para estudantes, idosos e professores (ao contrário do que acontece em todos os eventos esportivos e culturais no estado).

Pois bem, o curioso é que as duas medidas são totalmente convergentes aos interesses da Fifa. A entidade responsável pelo futebol mundial não investiu um centavo na construção da Arena Pernambuco, muito menos contribuiu financeiramente para as mais variadas obras de infraestrutura que estão em andamento, no Recife e Região Metropolina. Mas será ela que mais lucrará com tudo o que envolverá as marcas das  já referidas competições.

Nas duas determinações, há um interesse (da Fifa) em comum e ele é financeiro.

No caso das bebidas alcoólicas a razão é comercial. Um dos principais patrocinadores dos torneios Fifa é a AB InBev, proprietária das marcas Budweiser e Brahma.

Já a questão da meia-entrada está relacionada ao lucro com as vendas dos ingressos. Ao invés de ser obrigada a separar uma determinada quantidade de ingressos para vender a um preço mais acessível, a Fifa pode vender essa mesma quantidade de ingressos a um preço mais elevado, aumentando, assim, sua margem de faturamento no evento.

A perda do direito à meia-entrada é um absurdo do ponto de vista do Direito do Consumidor. Depois de anos para que o Código de Defesa do Consumidor passasse a ser valorizado e respeitado, RASGA-SE, mesmo que temporária e transitoriamente, uma legislação que visa a proteger o cidadão, mesmo que apenas quando este se encontra na condição de consumidor (como se quem não tivesse condições de consumir fosse um cidadão inferior, mas isso é tema para outro debate).

A liberação da venda de bebidas alcoólicas na Arena Pernambuco, por seu turno, demonstra como o Poder Público constituído no estado de Pernambuco agiu em defesa não dos cidadãos pernambucanos, mas sim dos interesses econômicos daqueles que têm a ganhar com os torneios da Fifa que se realizarão em nosso estado.

Mais do que isso, essa questão que tem um "objetivo muito claro e prazo de vigência bastante limitado" (como destacou o líder do Governo, Waldemar Borges, do PSB de Eduardo Campos), expõe a inocuidade da norma que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios pernambucanos nos demais eventos esportivos.

Essa flexibilização temporária e transitória corrobora com o ponto de vista de que as bebidas alcoólicas não são a causa da violência no futebol.

Vale lembrar que na Inglaterra, país que é exemplo inequívoco não apenas do combate à violência no futebol, mas também na reestruturação de todo o esporte nacional (que transformou um campeonato falido e sem crédito na liga de futebol mais lucrativa do mundo e uma das quatro ligas esportivas mais importantes do planeta), a venda de bebidas alcoólicas é permitida nos estádios da Premier League.

No campeonato inglês, os estádios recebem licenças especiais, que permitem a comercialização 15 minutos antes do começo do jogo, nos 15 minutos anteriores ao final do primeiro tempo e nos 15 minutos após o início do segundo.

Geoff Pearson, professor de direito da Universidade de Liverpool, autor de um livro sobre violência e torcedores ingleses, comentou sobre o tema em recente entrevista à BBC. "Não tenho dúvida de que existe pressão comercial para permitir a venda de cerveja". E ainda criticou que, em algumas competições europeias organizadas pela Uefa, a venda de bebida alcoólica seja proibida para o torcedor comum, mas permitida em áreas Vips e executivas dos estádios. “Se você paga uma certa quantia pelo seu ingresso, eles confiam que você pode beber, mas um torcedor comum, não.” 

Ou seja, mais uma vez, fica claro que o problema da violência não se limita à cerveja que o torcedor consome.

Entretanto, voltando a Pernambuco, mais especificamente para a Arena Pernambuco, o torcedor do Náutico não poderá consumir cerveja no estádio em que seu clube mandará os jogos. Mas o cidadão pernambucano verá espanhóis, uruguaios e, claro, brasileiros, consumindo uma Budweiser na mesma Arena Pernambuco nos meses de junho/julho de 2013 e 2014.

Em tempo, a Alepe tem 49 Deputados Estaduais. A medida foi aprovada por 47 (incluindo os deputados do PSB de Eduardo Campos e os do PT como o ex-presidente do Náutico André Campos). Frise-se que Daniel Coelho, do PSDB, embora tenha votado favoravelmente, defendeu que o tema não poderia ficar restrito às duas competições e o debate deveria ser mais amplo.

Apenas dois deputados foram contra. E esses dois o fizeram por se oporem intransigentemente ao consumo de bebidas alcoólicas no estádio. Estamos bem servidos...

Por fim, que sejam vendidas bebidas alcoólicas na Arena Pernambuco, sim! Mas que tal medida seja estendida a todos os eventos e praças esportivas do estado de Pernambuco. Que não fique restrita aos torneios da Fifa. Ahh! Só mais uma coisinha... Com meia-entrada, claro!